Planta nativa da Mata Atlântica vira fonte de renda para agricultura familiar


A “erva-baleeira” (Varronia curassavica), também conhecida como “maria-preta”, é uma planta nativa do Brasil, encontrada em toda a costa do país. Originalmente considerada uma planta invasora nas áreas agrícolas e de pastagem, a erva-baleeira passou a ser valorizada pela ciência devido aos seus benefícios e agora se tornou uma fonte de renda para agricultores familiares da comunidade de Miramar, no município de Eunápolis, Sul da Bahia.

O preço do quilo do óleo extraído da planta varia entre R$ 1.600 e R$ 3.000, e, apesar de uma demanda de mercado ainda em crescimento, o produto possui grande potencial de expansão. Essa oportunidade surgiu a partir do projeto Desenvolvimento Socioambiental para a Agricultura Familiar (DSAF), desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia Pau-Brasil (NEA Pau-Brasil) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em parceria com a Veracel Celulose.

O projeto envolveu a identificação da planta na região, a análise da composição química do óleo junto à Universidade Federal do Paraná e a orientação aos agricultores sobre os processos produtivos. Segundo Carolina Kffuri, pesquisadora da UFSB e atualmente parte da equipe de Responsabilidade Social da Veracel, a bioprospecção revelou que a Varronia curassavica poderia se tornar a base para o primeiro fitoterápico produzido integralmente no Brasil.

Com o apoio da UFSB e do Instituto Fotossíntese, o projeto capacitou os agricultores para a colheita, armazenamento e extração de óleo. Os primeiros resultados incluíram a venda inicial de 15 quilos de óleo essencial, um dos principais produtos derivados da planta. Claudio Batista, um dos agricultores envolvidos, destaca a importância do projeto para a comunidade e expressa seu desejo de expandir a comercialização do óleo, inclusive com a marca da Associação Miramar.

O óleo essencial da erva-baleeira, que é amplamente utilizado em tratamentos tópicos devido às suas propriedades anti-inflamatórias, tem um grande potencial de venda no mercado de óleos essenciais. A Veracel, que forneceu a dorna para a extração do óleo, também planeja futuramente apoiar a certificação do óleo para que ele possa ser vendido à indústria farmacêutica.

O projeto DSAF e a produção de óleo essencial refletem não apenas um avanço na geração de renda para a comunidade, mas também um compromisso com a preservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável. A associação Miramar, com 1.212 hectares divididos em 84 lotes, iniciou o projeto com 6 famílias e está agora expandindo a participação de outros interessados.

Este projeto premiado, que em 2023 recebeu o primeiro lugar no 14º Prêmio Indústria Baiana Sustentável, promovido pela FIEB, é um exemplo de como a parceria entre instituições de pesquisa e a iniciativa privada pode gerar resultados inovadores e sustentáveis. Além da erva-baleeira, o projeto investiga outras plantas com potencial para a agricultura familiar, como a Melaleuca alternifolia, conhecida por seu óleo essencial com propriedades antifúngicas.

O projeto também promoveu capacitações para a produção sustentável de óleos essenciais e planos de negócios sustentáveis, com a colaboração de instituições como a UFSB, o Instituto de Pesquisas Ecológicas e a Universidade de Yale. O evento, realizado em agosto, contou com a participação de diversos agricultores da região, consolidando a rede de colaboração voltada para o desenvolvimento sustentável.

Fonte e foto: Fleishman e divulgação Veracel