Vereda: Candidato derrotado Salvador Nonato recebeu recursos financeiros doados pelo irmão, investigado por corrupção

Na eleição municipal de 6 de outubro de 2024, Salvador Nonato (MDB) não obteve êxito na corrida eleitoral, mas sua campanha foi marcada por diversos fatos polêmicos, um fato que chama atenção: o recebimento de doação financeira de seu irmão, Adalberto Nonato, ex-prefeito de Vereda (BA), investigado por diversos escândalos de corrupção. A doação foi formalmente declarada na plataforma DivulgaCand, responsável por disponibilizar informações sobre os candidatos e suas fontes de financiamento. A movimentação gerou um debate acalorado, dada a ficha corrida de Adalberto, envolvido em casos de desvio de recursos públicos e outros escândalos em sua gestão como prefeito.
Adalberto Nonato em 2020 declarou a justiça eleitoral um patrimônio de (Vinte e dois milhões, seiscentos e dezesseis mil, seiscentos e quarenta e oito reais e trinta e cinco centavos) – R$ 22.616.648,35 – ele foi prefeito de Vereda por diversas vezes, e sua administração se viu envolvida em diversas acusações de corrupção, com destaque para o caso do desvio de recursos da merenda escolar. O escândalo veio à tona após investigações que apontaram o uso indevido de verbas públicas destinadas à alimentação escolar, além de outros indícios de má gestão e apropriação indébita de recursos públicos. Em 2020, o ex-prefeito tentou retornar ao cenário político, concorrendo novamente à prefeitura de Vereda, mas não obteve sucesso, sendo derrotado naquele pleito.
Após as denúncias, Adalberto teve seus bens bloqueados pela Justiça federal, uma medida preventiva para garantir que os recursos públicos desviados pudessem ser recuperados. A investigação sobre os crimes de corrupção ainda segue em andamento, e ele permanece sendo alvo de diversos processos, sem que tenha conseguido comprovar sua inocência nas acusações que pesam contra ele.
A doação feita por Adalberto Nonato à campanha de Salvador Nonato tem gerado críticas, especialmente entre a população veredense. A movimentação financeira, embora “legal” e devidamente registrada, acende uma luz vermelha sobre os vínculos familiares entre os dois e o histórico do ex-prefeito.
Para os críticos, essa doação pode ser vista como mais um episódio de aproximação entre práticas questionáveis da política e o financiamento das campanhas eleitorais. A transparência na origem dos recursos, embora prevista por lei, não impede que se levante o debate sobre a ética e a moralidade de relações tão próximas entre candidatos e doadores envolvidos em escândalos de corrupção.
Além da doação de Adalberto, Salvador Nonato também contou com o apoio dos irmãos Lúcio e Geddel Vieira Lima, figuras polêmicas na política baiana, especialmente no MDB. A presença dos Vieira Lima na campanha de Salvador trouxe uma associação com figuras que também enfrentaram acusações de corrupção em suas trajetórias políticas não deixou de ser uma preocupação entre os veredenses.
A relação entre Salvador Nonato e Adalberto Nonato embora em tempos atrás em polos políticos opostos, hoje é conhecida no cenário político local, mas o apoio financeiro do ex-prefeito, com sua bagagem de investigações e acusações, não deixou de causar desconforto.
Relembre o caso


Em 2019, a Justiça Federal determinou o bloqueio de bens do ex-prefeito de Vereda, Adalberto da Rocha Nonato, da ex-primeira dama, Morizarle Souza Ferreira Nonato, do ex-secretário de Educação, Adilson dos Anjos Rocha, do ex-secretário de finanças de Vereda, Jacques James Ronacher Passos por desvio de verbas do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
O MPF estimou na época que mais de uma tonelada de alimentos haviam sido desviados da rede pública municipal através de um contrato de fornecimento de gêneros alimentícios para a merenda escolar. A empresa que operou o suposto esquema de desvio foi a Mercearia Avelar de propriedade na época de Edgar Pereira Avelar localizada no município de Itanhém.
De acordo com o MPF, a licitação que contratou a Mercearia Avelar foi simulada, com a prática de atos forjados e fraude na licitação. O ex-prefeito e os demais envolvidos foram acusados de falsidade ideológica, uma vez que foi constatado o uso de documentos de duas empresas que não participaram da licitação.
Conforme documentos publicados pelo portal Opinião Pública, Adalberto Nonato na condição de prefeito de Vereda participou da fraude e Adilson dos Anjos, secretário de Educação e membro da Comissão de Licitação, Jacques Ronacher e Morizarle Nonato, que atuaram como membros da Comissão de Licitação na época.
Na época Jacques era também secretário de Finanças de Vereda e efetuou os pagamentos do contrato.
A Cultura do Financiamento de Campanhas e a Necessidade de Maior Fiscalização
Este episódio levanta questões importantes sobre o financiamento de campanhas eleitorais e a necessidade de maior fiscalização sobre as origens dos recursos. Embora as doações sejam reguladas pela legislação eleitoral e as informações sejam públicas, a proximidade entre políticos envolvidos em escândalos e o financiamento de suas campanhas pode enfraquecer a confiança da população na integridade do processo eleitoral. A sociedade exige transparência não apenas nas doações, mas também nas relações entre os doadores e os candidatos, especialmente quando esses doadores estão envolvidos em investigações de corrupção.
Para especialistas em direito eleitoral e em gestão pública, o caso de Salvador Nonato e Adalberto Nonato reforça a necessidade de se repensar as regras de financiamento de campanhas e a forma como a Justiça Eleitoral deve lidar com doações de indivíduos com histórico de envolvimento em ilícitos. A investigação de fontes de financiamento deve ser rigorosa e deve incluir a análise de possíveis conflitos de interesse, além de considerar o impacto dessas doações na imagem pública dos candidatos.
Embora Salvador Nonato tenha sido derrotado nas urnas, sua candidatura e a doação feita por Adalberto Nonato à sua campanha expõem algumas das contradições e desafios que marcam o sistema político brasileiro. A conexão entre candidatos e doadores envolvidos em escândalos de corrupção é um tema que exige reflexão, e a transparência nas doações, embora necessária, não é suficiente para evitar que figuras problemáticas continuem a influenciar o processo eleitoral.